terça-feira, 3 de abril de 2012

0 A turbulência da GOL na bolsa

Ações têm queda de 40% em um ano, enquanto papéis da TAM voam



São Paulo – Dizer que a ação de uma companhia aérea passa por uma turbulência é um baita clichê, mas não há melhor maneira de descrever o que têm acontecido com os papéis da brasileira GOL (GOLL4). A empresa sente as dificuldades recentes do setor aéreo, após um período de forte crescimento, que acompanhou o aumento da renda da população. Este ano, porém, o crescimento deve ser mais modesto.
“O setor cresceu 15% em 2011 e agora esperamos uma desaceleração, com crescimento de 7%”, estima Claudia Oshiro, economista da Tendências Consultoria. A demanda está muito associada aos preços das passagens, que devem ter novo reajuste para cima em 2012. “No ano passado, dois fatores puxaram a alta nas tarifas: o preço do querosene de aviação e o dólar, já que muitos custos de manutenção são dolarizados”, afirma Amaryllis Romano, também da Tendências.
A estimativa da consultoria é de um dólar cotado em R$ 1,70 no final do ano, o que deve fazer com que esse fator não pressione tanto o preço das tarifas. O valor do combustível e da mão de obra, porém, devem sim pesar no bolso das empresas. Mas esses são fatores que afetam todas companhias do setor, seja de capital aberto ou fechado. Dentro da bolsa, a GOL parece ter sangrado mais que a TAM.
Uma sobe, a outra cai
Numa análise de períodos mais longos, os desempenhos de TAM (TAMM4) e GOL estão muito diferentes no Ibovespa. Em um mês, por exemplo, as ações da TAM sobem 13,34%, enquanto os papéis da GOL têm queda de 16,97%. Em 12 meses, a diferença também fica evidente. Enquanto os papéis da TAM têm valorização de 47,36%, os da GOL caem 44,31%.
Segundo analistas da corretora Prosper, a diferença acontece basicamente por uma questão de gestão. Por ser uma empresa maior, a TAM teria mais facilidade para diluir seus custos e ser menos impactada pelos fatores que influenciam o mercado como um todo. Há ainda a expectativa de que a fusão com a LAN crie sinergias que aumentem essa possibilidade de melhor gestão dos custos.
A GOL anunciou um plano para reduzir o número de voos diários, que diminuirá os custos por meio de licenças não remuneradas e demissões voluntárias. A expectativa da Prosper é que os resultados possam começar a ser colhidos a partir do segundo semestre.
Recomendações
Após a divulgação de resultados da GOL, o J.P. Morgan reduziu o preço-alvo estimado para as ações da empresa de 19 reais para 15,50 reais no final do ano, um potencial de valorização de 23,70%. Embora o potencial de retorno esperado esteja em linha com uma recomendação de compra, em relatório distribuído para clientes, o analista Fernando Abdalla decidiu manter a recomendação de “neutro” para os papéis.
“Reforçamos nossa visão de que a demanda vai continuar muito sensível aos aumentos de preço, mas reconhecemos uma perspectiva um pouco mais otimista em relação aos custos, que a companhia luta para reduzir”, afirma o analista no documento.
O Credit Suisse está ainda menos otimista com os papéis. O banco rebaixou a recomendação para as ações da GOL de neutro para ‘underperform’ (desempenho abaixo da média do mercado). O preço-alvo para os papéis também diminuiu de 15 reais para 12 reais, valor abaixo do atual.
“Acreditamos na continuação de um cenário desafiador para os lucros da GOL, explicado pelas pressões do aumento no preço de combustíveis e uma moeda depreciada”, afirmam os analistas Luiz Otavio Campos e Viccenzo Paternostro em relatório distribuído para clientes.
Os analistas da Fator Corretora também seguem cautelosos e reforçaram a recomendação de “manutenção” das ações. Em relatório distribuído para clientes, a analista Jacqueline Lison reforçou que os resultados vieram muito baixos, embora acima das expectativas, e também destacou o plano de corte de custos da GOL.
Os analistas do Deutsche Bank parecem ser os mais otimistas em relação ao desempenho da empresa e mantiveram a recomendação de compra após a divulgação de resultados.
“A GOL tem as peças certas para uma reviravolta: estabilidade no crescimento da capacidade, corte de custos e serviços em novos nichos de mercado. Agora a companhia precisa executar esse plano. Dado o sucesso passado da atual administração, acreditamos que a empresa está pronta para o desafio”, afirmam os analistas Michael Linenberg, Richa Talwar e Catherine O'Brien em relatório enviado para clientes.

Fonte: Exame/Abril

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