quinta-feira, 24 de novembro de 2011

0 Estresse aéreo na Barra: tráfego de aeronaves preocupa moradores

Vaivém de aviões e helicópteros no Aeroporto de Jacarepaguá é motivo de reclamação de quem mora no bairro vizinho



Quando o assunto é tráfego, moradores da Barra não pensam só no excesso de carros e em ruas congestionadas. Eles olham para o céu: é o tráfego aéreo que vem preocupando e incomodando muita gente do bairro. Vizinhos do Aeroporto de Jacarepaguá, eles reclamam da frequência cada vez maior de voos e, principalmente, do barulho causado pelas aeronaves. O medo de acidentes, é claro, está entre as principais queixas. A mobilização para mudar o cenário já começou. Na semana passada, um morador estendeu faixa na Avenida Ayrton Senna, pedindo providências ao poder público. Outro grupo formou comissão e levou sugestões de mudança de rotas ao Departamento de Controle Aéreo (Decea). Tudo para que o céu deixe de ser, como no trânsito do dia a dia, um motivo de estresse.

Moradores do condomínio Nova Ipanema, na Avenida das Américas, não precisam de despertador. Por volta das 6h30m, de segunda a sexta-feira, não há quem consiga dormir com o barulho dos helicópteros que prestam serviço para a Petrobras e que decolam do Aeroporto de Jacarepaguá. As aeronaves passam bem perto dos prédios e têm incomodado tanto as 3.700 pessoas que residem ali que o condomínio criou uma comissão para resolver o problema. O primeiro passo dos responsáveis pela chamada Comissão do Barulho foi fazer um levantamento de dados e uma análise da geografia da região para propor mudanças de rotas.

— Procuramos a Infraero no Aeroporto de Jacarepaguá. Lá, nos explicaram como funcionavam as rotas, mas disseram que o órgão que as definiam é Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Enviamos uma carta ao tenente-brigadeiro Ramon Borges, mostrando a situação e sugerindo algumas mudanças. É claro que se trata de um estudo de leigos, mas é um esforço para resolver o problema. Isso foi em julho, e não recebemos nenhuma resposta — explica o engenheiro Sebastião Ribeiro, membro da comissão.

A assessoria de imprensa do Decea confirmou o recebimento da carta, mas informou que não há como alterar as rotas dos helicópteros, como pedem os moradores, porque isso implicaria em mudanças de outras rotas aéreas.

Síndico do condomínio, o engenheiro Mário Szheer registrou, com um decibelímetro, durante três semanas seguidas a quantidade de voos de helicópteros e o volume de ruído dos aparelhos. Num único dia, Szheer contou o vaivém de cem aeronaves, sendo que uma delas produziu 110 decibéis na área de lazer do condomínio, que fica no térreo e em local aberto.

— Nos apartamentos, o barulho é ainda pior. Quando os helicópteros passam é impossível falar ao telefone ou ouvir a TV. O barulho é ensurdecedor — diz Mário.

Ele não exagera ao reclamar do volume. Segundo a escala de decibéis (dB) relacionada no site do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), a qualidade de som é considerada muito alta de 80 a cem dB, e ensurdecedora entre cem e 120dB.

Os moradores do Nova Ipanema questionam o aumento do tráfego nos últimos três anos. E não são os únicos incomodados. Até quem trabalha dentro do Aeroporto de Jacarepaguá se queixa da situação. Dono da empresa de propaganda aérea Propagaer, Donaldo Figueira reclama do intenso tráfego dos helicópteros.

— Não se está preservando a condição de aeroporto para aeronaves de pequeno porte. São helicópteros S92, S76 e Super Puma, todos de grande porte e de nível de ruído altíssimo — diz Figueira, chamando atenção para um futuro ainda mais barulhento. — Hoje a frota do Pré-Sal é 10% do previsto.

Procurada pela reportagem, a Petrobras não respondeu sobre a quantidade de voos diários feitos a serviço da empresa. Mas informações na página da Infraero na internet confirmam o aumento do serviço no Aeroporto de Jacarepaguá: “Atualmente, o aeroporto, em função de sua localização, está em evidência pelos grandes empresários da aviação executiva e para o transporte off-shore em consequência da prospecção e extração do petróleo da camada Pré-Sal da Bacia de Santos. Desde o Panamericano, realizado em 2007, as características do aeroporto foram modificadas radicalmente. O volume de movimentos de aeronaves e passageiros vem crescendo devido à demanda”.

Há um aspecto no drama vivido pelos moradores que não pode ser ignorado. O Aeroporto de Jacarepaguá foi inaugurado em 1971, antes de muitos empreendimentos imobiliários da Barra. O Novo Ipanema é de 1977.

— O crescimento do aeroporto está totalmente controlado. Os moradores de condomínios vizinhos já sabiam da existência dele. E as construções no entorno continuam. Depois não adianta reclamar — diz Sérgio Alexandre, dono de uma empresa aérea que funciona no Aeroporto de Jacarepaguá.

Na Avenida Abelardo Bueno, por exemplo, será construído um novo centro comercial, que ficará no caminho de aviões e helicópteros. Mas para o empresário Rafael Ganem, morador de um condomínio na Avenida das Américas, colocar a culpa no desenvolvimento do bairro não reflete a realidade.

— Dizer que o aeroporto já existia antes das pessoas se mudarem para a Barra é uma falácia. Não havia movimento no aeroporto, era um avião ou outro de pequeno porte. Quem mora na Barra está sofrendo com o crescimento exponencial de aeronaves que partem do Aeroporto de Jacarepaguá — afirma Ganem.

De acordo com a Secretaria municipal de Urbanismo, todas as licenças para construção no entorno do aeroporto passam pela aprovação da Aeronáutica. “Todas as edificações que estão na abrangência do cone de aproximação dos aeródromos são submetidos à análise da Aeronáutica, que tem que conceder o "nada a opor" ao projeto. Só, então, é concedida a licença para construção”, informa nota divulgada pela secretaria.

Outro ponto polêmico é a questão da segurança. Quem ouve o barulho das aeronaves tão perto de casa teme que um dia elas caiam sobre suas cabeças. Mas há quem não veja razão para tanto medo, como o aviador Laerte Coutinho, sócio do Clube Esportivo de Voo, o CEU.

— Sou vizinho do aeroporto e defensor do meio aeronáutico. Posso dizer que as rotas são bem específicas e seguras — afirma, lembrando, no entanto, que o aeroporto funciona na capacidade máxima. — O tráfego está disciplinado e coordenado, mas no limite.

Em janeiro deste ano, a Infraero anunciou investimentos no Aeroporto de Jacarepaguá estimados em R$ 5 milhões até 2015. Entre eles, está a nova torre de controle, concluída em outubro, e a ampliação do pátio de aeronaves.



Fonte: O Globo

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