Na sexta-feira, a Gol anunciou a aquisição de 100% do capital da Webjet pelo valor de R$ 310,7 milhões. Desse total, R$ 96 milhões serão desembolsados ao empresário Guilherme Paulus, único acionista da Webjet. Na negociação, a Gol assume uma dívida de R$ 214,7 milhões.
A conclusão do negócio, informou na sexta-feira a Gol, ainda está sujeita à auditoria e aprovação de autoridades governamentais como a Anac e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Paulus também é fundador e presidente do conselho de administração da operadora de turismo CVC. Em janeiro de 2010, o empresário já havia protagonizado outra grande negociação. Por cerca de R$ 700 milhões, vendeu 63,6% da CVC para o fundo de investimentos Carlyle. Na sexta-feira, a Webjet informou que as duas empresas manterão as demonstrações financeiras separadas, assim como as duas operações permanecerão independentes durante o processo de conclusão do negócio.
"A tendência no mundo é de consolidação. Como temos aeroportos operando no limite, nos interessava os slots (horários de pouso e decolagem) da Webjet em aeroportos como o de Guarulhos e o Santos Dumont. Além disso, a Webjet desenvolveu um modelo de negócios muito parecido com o nosso", afirma um executivo envolvido nas negociações, mas que pediu para não ser identificado.
Os dados da Anac comprovam a afirmação do executivo. Antes da compra da Webjet, a Gol já tinha a liderança nas rotas Congonhas-Confins e Congonhas-Curitiba. Com a negociação, a Gol mais a Webjet ultrapassam a TAM justamente nas principais ligações envolvendo os aeroportos Internacional de Guarulhos e o Santos Dumont, no Rio.
Gol e Webjet, juntas, passarão a ter o maior fluxo de passageiros nas rotas entre os aeroportos de Guarulhos e os de Salvador, de Porto-Alegre, de Brasília e do Galeão. As duas empresas também terão a hegemonia nas ligações entre o Santos Dumont e os aeroportos de Brasília e de Salvador. Ano passado, essas oito rotas transportaram quase 10 milhões de passageiros (9,9 milhões, conforme a Anac).
A TAM permanecerá com o maior fluxo de passageiros na ponte-aérea, que em 2010 transportou 3,5 milhões de pessoas. Também continua com a liderança entre Congonhas e Brasília, com 1,7 milhão de viajantes no ano passado. Por aeroportos, Gol e Webjet passarão a ter a liderança em Brasília, com 48,8% da demanda, ante 44,5% da TAM. As duas também passam a ser líderes em Salvador, com 47,3%, diante dos 38% da rival TAM.
Os slots são concessões dadas às empresas aéreas em aeroportos. Antes de a Anac ter introduzido um sistema de sorteio e leilão, em meados de 2006, esses horários eram concedidos por ordem de chegada do pedido, conforme as regras do antigo Departamento de Aviação Civil (DAC), que deu lugar à Anac.
O professor de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício Espírito Santo, afirma que a negociação vai ser prejudicial ao consumidor. "A Gol vai aumentar as tarifas da Webjet, que eram mais baratas que as suas. O ideal para a sociedade seria a Webjet se fortalecer sozinha", afirma o especialista,
De acordo com ele, a compra da Webjet não teve como principal motor slots em aeroportos ou ganho de participação de mercado. "Foi um movimento defensivo. A Gol queria se proteger contra uma investida de investidores estrangeiros ou até mesmo de nacionais", afirma.
Em meados de março de 2010, Guilherme Paulus afirmou que havia conversações com a companhia aérea irlandesa de baixo custo Ryanair para uma possível negociação da Webjet. O negócio não prosperou, contudo, porque não avançou a tramitação da lei que amplia o limite de capital estrangeiro em companhia aérea brasileira dos atuais 20% para 49%. Paulus, aliás, sempre foi um ferrenho defensor dessa mudança, com idas pessoais a Brasília.
O especialista em aviação da consultoria Bain & Company, André Castellini, concorda que a Gol estava interessada nos slots da Webjet, mas vê outros interesses. "A Gol está comprando participação de mercado e tripulação treinada. Como os pilotos da Webjet operam o Boeing 737-300, para treiná-los para o 737-700 ou 800 [aviões de nova geração usados pela Gol] é mais rápido e barato", afirma ele. "Há uma sinergia de custos", acrescenta.
Fonte: Valor Online
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