Filas, atrasos e cancelamentos de voos. Uma repetição do caos aéreo enfrentado pelos brasileiros no final de 2006 e início de 2007 é dada como certa por representantes da categoria dos controladores de voo em 2014, ano da Copa do Mundo de futebol, e 2016, quando o Rio de Janeiro receberá as Olimpíadas. Além dos problemas para embarcar, contudo, o alerta também é feito para a segurança dos voos, afetada pela falta de mão de obra preparada para lidar com o aumento no tráfego aéreo.
A principal reclamação dos profissionais é que a preocupação com as obras nos aeroportos não está acompanhada de discussões sobre o pessoal que atua nos bastidores e cuja função é essencial para assegurar que os passageiros chegarão ao destino. Para a categoria, além do número insuficiente de controladores, os que estão em atividade são jovens inexperientes, na faixa etária dos 20 anos, e não tiveram treinamento adequado.
"Podemos ter problemas sim. Se você tem um volume de tráfego muito grande, precisa de pessoas que realmente tenham capacidade e controle emocional para lidar com a situação", disse o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção ao Voo, Jorge Botelho. "Quem estiver entrando agora ainda estará em período de estágio na Copa. E precisamos lembrar que nem todo mundo se adapta à profissão".
Segundo eles, o número insuficiente de trabalhadores resulta em sobrecarga de trabalho aos que estão na função, principalmente com o aumento do número de voos em todo o País. "No período da crise, um controlador tinha que dar conta de 14 aviões, o que já é muito. Hoje, chega a ser 20 aeronaves controladas ao mesmo tempo. E, se o sistema falha, o controle tem que ser todo manual", disse o presidente da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), Edleuzo Cavalcante.
Ele disse que a entidade recebe relatórios frequentes de incidentes aéreos, muitos deles decorrentes da imperícia de controladores. Na maior parte dos casos, duas aeronaves se aproximam mais do que o recomendado, o que provoca risco de acidentes. Também há registros de falhas em sistemas de radar e interferências na comunicação. A questão da inexperiência dos controladores é agravada, segundo a ABCTA, pelo fato de que muitos profissionais com mais tempo de serviço foram afastados da função depois da crise aérea por apontarem problemas no setor. Acabaram classificados como "liderança negativa", como ocorreu com Cavalcante.
A associação contabiliza aproximadamente 3,1 mil controladores de voo no Brasil, quando o mínimo necessário seria 5 mil. A evasão anual chega a 300 profissionais, que se aposentam ou investem em outras profissões. Preparar pessoal para completar o quadro até a Copa do Mundo é tarefa impossível, segundo os representantes dos controladores, porque leva tempo: pelo menos quatro anos para se adquirir capacidade plena para o trabalho.
Segundo a ABCTA, em 1994, a preparação de um controlador de voo incluía 240 horas de treinamento com tráfego aéreo real, número que caiu para 30 horas com tráfego real, complementado com o uso de simuladores.
A questão salarial também é apontada como fator que desfavorece a permanência na profissão. A remuneração média é de R$ 3,5 mil, valor considerado baixo para a responsabilidade que o cargo exige. Segundo Botelho, o governo havia prometido uma reestruturação da profissão, que seria negociada em 2008, o que não ocorreu: "isso desanimou muita gente". Ele afirmou, contudo, que a preocupação com os salários vem depois da preocupação com a qualificação dos profissionais e lembrou que uma reivindicação antiga ainda não está em vigor: o domínio do inglês. "Um militar não tem que ter noção nenhuma de inglês para entrar para a escola de preparação. O civil tem que ter uma noção, que não é suficiente".
A discussão sobre a necessidade de os controladores terem domínio da língua inglesa começou após a queda do voo 1907 da Gol, em 2006. Um série de erros, entre eles falhas na comunicação entre as torres e os pilotos de um jato Legacy - ambos americanos -, levaram ao choque entre as duas aeronaves e à queda do Boeing. O acidente matou 154 pessoas.
Uma emenda à medida provisória 527/11, que tramita no Congresso, prevê prova escrita e oral de língua inglesa nos concursos públicos para o cargo, "para fins de aferição do domínio do vocabulário técnico, de aviação e controle de voo". O texto da MP elaborado pelo Executivo cria 100 cargos efetivos de controlador de tráfego aéreo, número que as entidades consideram muito aquém do necessário. "Queria ser otimista, mas acredito que teremos muitos problemas durante a Copa no controle do tráfego aéreo. Hoje se fala em aeroportos e pistas, que também são importantes, mas se não tiver pessoal, o problema não se resolve", afirmou Cavalcante.
O Terra enviou à Força Aérea Brasileira um pedido de entrevista e algumas perguntas sobre a situação dos controladores de voo no País, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Fonte: Terra Noticias
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