Piloto Marcelo Medeiros acaba de conseguir uma vaga no mercado offshore (Foto: Arquivo Pessoal)
Anac aponta aumento de 100% no número de licenças em 2010.
Empresas ligadas ao pré-sal criam vagas e escolas de especialização.
Impulsionada pelas oportunidades do mercado, a formação de pilotos de helicóptero no Brasil passa por um "boom", como mostra a comparação de dados da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) sobre a concessão de licenças.
O ano de 2010 registrou crescimento de 100% no número de habilitações para pilotos privados de helicóptero (o primeiro brevê do piloto) e de 75% nas habilitações de piloto comercial (o exigido pelas empresas para o trabalho remunerado) na comparação com 2009.
E, pela quantidade de licenças concedidas só no primeiro semestre de 2011, este ano deve superar o anterior. Hoje, são mais de 3.097 pilotos comerciais aptos para comandar os pelo menos 1.518 helicópteros registrados no país – média de 2 pilotos por unidade. O número é pequeno se considerado que empresas aéreas empregam até 14 pilotos por aeronave.
Para especialistas da área, entre os fatores da alta na procura por profissionais está o crescimento da exploração de petróleo na camada pré-sal no litoral brasileiro.
“A demanda por pilotos especializados é crescente a cada dia, principalmente para o tipo de operação no pré-sal. A formação está a mil, mas ainda aquém do que as empresas estão pedindo, principalmente por falta de investimento nesta mão de obra", diz o presidente da Associação Brasileira dos Pilotos de Helicóptero (Abraphe), comandante Rodrigo Duarte.
Ele avalia que faltam pilotos de helicóptero especializados para atuação offshore, como é denominado o segmento de transporte para plataformas de petróleo em alto mar. Atualmente, cerca de 700 profissionais habilitados atuam no setor, mas Duarte diz que há aeronaves ociosas porque não há quem possa operá-las. "Ainda bem que as companhias acordaram para isso e começaram elas mesmas a criar centros de treinamentos”, afirma.
No domingo (10), reportagem do G1 abordou alta demanda mundial por pilotos. Conforme a Organização Internacional de Aviação Civil (Icao), até 2030 serão necessários mais 517.413 novos comandantes. No Brasil, companhias têm contratando pilotos recém-formados, ex-integrantes da Força Aérea Brasileira (FAB) e até “repatriando” brasileiros que foram para o exterior trabalhar, promovendo-os para voltarem aos céus do país.
Formação para o helicóptero
A Anac exige 35 horas de voo para o piloto de helicóptero obter o brevê privado e 100 horas para piloto comercial (para aviões, são 40 e 150 horas de voo, respectivamente). Conforme o comandante Duarte, o aluno leva até 8 meses para se formar nos cursos, que não saem por menos de R$ 80 mil. “As escolas de voo estão cheias, não estão parando de voar um segundo sequer. É como os colégios, estão cheios de alunos, mas o mercado precisa dos melhores. As empresas estão exigindo pelo menos 500 horas de voo de helicóptero para contratar”, afirma ele.
Na escola Go Air, especializada na formação em helicópteros em São Paulo, o número de alunos triplicou nos últimos três meses, segundo o coordenador de voo Rodrigo Matos de Oliveira. “Até o fim de 2010, tínhamos em média 50 alunos voando. Agora chega a 150 e abrimos sempre turmas extras”, diz. Para obterem as horas de voo exigidas pelas empresas, os recém-formados trabalham dando instrução, em operações de reportagem aérea, rádio ou rastreamento de carros. “Boa parte dos pilotos sai daqui com o brevê já encaminhado para o mercado, precisando apenas das especializações”, afirma Oliveira.
No setor de offshore, as maiores companhias que atuam no país criaram seus próprios centros para formar os pilotos nas aeronaves que irão operar. “A demanda de novos pilotos será crescente e intensa nos próximos anos. Apenas a Petrobras, maior cliente do setor, planeja dobrar o número de passageiros transportados até 2016", diz o comandante Roberto Coimbra, diretor-geral da empresa Omni.
Diferentemente do táxi aéreo ou de aviação executiva, as operações de offshore exigem pilotos experientes para helicópteros com maior capaciadade de voo e que levam até 26 passageiros embarcados. São aeronaves importadas, das fabricantes Eurocopter, Sikorsky e Bell, cujos comandantes são espécies de “gerenciadores de voo”, com salário de até R$ 30 mil.
"Hoje o número de pilotos habilitados não atende à demanda necessária e o quadro tende a piorar com a entrada em operação de novas aeronaves e o afastamento natural dos comandantes mais antigos", alerta ele.
"Atualmente no Brasil, existem em torno de 700 pilotos que voam no offshore, dos quais mais de 40 estão com idade superior a 60 anos”, diz.
A Omni tem 203 pilotos e copilotos, que são treinados na França, Noruega e nos Estados Unidos. “Apenas para as empresas cumprirem os contratos em andamento e os que entrarão em operação nos próximos 18 meses, o déficit previsto é de 110 pilotos de offshore”, acrescenta Coimbra.
O piloto Marcelo Medeiros, de 33 anos, conseguiu uma qualificação como piloto de offshore há menos de um mês e ainda está em treinamento em uma empresa. "Consegui horas de voo trabalhando em táxi aéreo e na aviação executiva. A companhia me contratou e está investindo em minha formação, pois ainda há alguns cursos que eu não tenho", afirma ele.
Outro que acaba de conseguir uma vaga em offshore é o piloto Felipe Diniz, que tem 24 anos. Ele se formou há dois anos e com pouco mais de 200 horas de voo já está em formação para pilotar grandes helicópteros para plataformas de petróleo. "É uma grande oportunidade de aprende e ainda ganhar para isso. Há grande demanda", afirma ele.
Escala de trabalho
A falta de mão de obra qualificada, no entanto, pode gerar problemas. "As empresas estão apertadas. Está até tendo coisa errada porque não tem mão de obra”, diz o comandante Orlando Rodrigues Rafael, especialista na área do Sindicato Nacional dos Aeronautas.
Segundo ele, como a quantidade de voos é grande e as empresas têm dois pilotos por helicóptero, “eles estão trabalhando sem folga e o que faz voos à noite chega a usar brevê de outro piloto para voar e não acumular horas a mais”. “Empresas têm burlado a legislação e muitas vezes não existe escala regulada. É perigoso para a aviação”, acrescenta o comandante.
Procurada sobre como ocorre a fiscalização nas escalas de voo e as irregularidades levantadas pelo sindicato, a Petrobras ainda não se manifestou. A Anac informou, por meio de nota, que obriga as empresas a adotarem um programa de segurança operacional de voo e que possui o programa Decolagem Certa (DCERTA), "que permite um monitoramento e um controle efetivo das movimentações de aeronaves, inclusive offshore, impedindo que sejam iniciados voos em que haja não conformidades em relação a requisitos da tripulação ou da aeronave".
Os pilotos de offshore, que se deslocam para campos de petróleo até 15 quilómetros da costa, possuem escala de 15 dias de trabalho por 15 de folga, o que eles chamam de “estar de quinzena”. O salário de um copiloto recém-empregado pode variar de R$ 4 mil a R$ 10 mil. Já o comandante da aeronave, que possui mais de 1.500 horas de voo, tem salário médio de R$ 20 mil, segundo o representante do sindicato.
“Empresas estão pegando pilotos que operam no pré-sal do Rio de Janeiro e pagando mais de R$ 30 mil, além de horas de voo e diárias para que trabalhem onshore (como são denominadas as operações para plataformas de petróleo e gás na Amazônia). Falta piloto também para isso”, diz o diretor.
A empresa HRT, que explora óleo e gás na Amazônia, é uma das que está investindo na qualificação de seus pilotos e criou até uma empresa subsidiária, chamada Air Amazônia, que conta com oito helicópteros grandes para transportar seus funcionários na região, já que uma nova perfuração foi iniciada em abril em Tefé.
Especialistas e pilotos ouvidos pelo G1 dizem que há um lobby de empresas do setor para que possam ser contratados pilotos estrangeiros na operação offshore. Hoje, isso é proibido pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, que autoriza apenas o emprego de tripulantes estrangeiros em caráter provisório. Desde 2009, tramita na Câmara o projeto de lei 6.716, que pretende alterar isso, autorizando a contratação de tripulantes estrangeiros por até 5 anos.
“Se as empresas investirem na formação, não precisa vir estrangeiros. Acho que o problema da língua pode prejudicar a segurança do tranporte. A melhor solução é empresas de offshore criarem o seu próprio corpo de instrutores e treinarem seus pilotos. Aí têm a certeza de que são os melhores para operarem estas aeronaves”, diz o diretor da Abraphe.
Fonte: G1.com
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